O Laboratório de Estudos sobre Circulação, Transporte e Logística (LabCit) e o Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infraestruturas (Gedri) criaram o Observatório Geográfico da Covid-19 e suas Repercussões Socioespaciais, com o objetivo de transmitir o máximo de informações confiáveis sobre a difusão espacial do novo Coronavírus em Santa Catarina e no Brasil, por intermédio de mapas temáticos e artigos.
O Observatório está localizado no Departamento de Geociências no Centro de Filosofias e Ciências Humanas (CFH) da UFSC e coordenado pelo professor Márcio Rogério Silveira. Destacam-se quatro frentes de atuação:
1) Textos para Discussão (artigos para debates sob diversos aspectos);
2) Raio X da Covid-19 em Santa Catarina (acompanhamento diário e mapeamento sobre os casos dessa doença, especialmente casos, óbitos, letalidade em relação aos dados populacionais do estado);
3) Mapas da Covid-19 elaborados pelo LabCit (mapeamento que leva em consideração infraestruturas de transportes, distribuição da população, fluxos econômicos e outros no Brasil e, especialmente em Santa Catarina);
4) Artigos sobre a Covid-19 no Blog Geoeconômica (pequenos textos que relacionam os impactos sociais do Novo Coronavírus).
O mapa sobre as principais infraestruturas de transportes do estado de Santa Catarina, por exemplo, esclarece como é constituída a rede urbana catarinense, mostrando os principais nós logísticos do estado, evidenciando seus principais pontos de interações espaciais. Os municípios de Concórdia, Chapecó, Florianópolis, Blumenau, Itajaí, Joinville, Criciúma, Lages e Balneário Camboriú são os principais eixos de circulação, apresentando números elevados de casos da doença. Concomitantemente, o mapa interativo permite observar outro grande foco de casos de Covid-19, além do litoral, como é o caso da região Oeste.
Os mapas temáticos, publicados semanalmente, oferecem uma visão geral da circulação de pessoas e mercadorias no estado catarinense, bem como destacam os principais direcionamentos e hierarquias das interações espaciais na rede urbana. Outro material, desenvolvido em parceria com a UFSM (Santa Maria/RS) e o IFSC (Garopaba), é o mapa interativo que mostra a difusão dos casos de Covid-19 por municípios. Esse material revela uma explosão de casos no Oeste catarinense causados por inúmeros fatores, como a reabertura do comércio e as atividades das agroindústrias, cuja mão-de-obra e matéria-prima vêm de outros municípios e do Rio Grande do Sul, além do aumento da circulação de mercadorias e pessoas pelas principais rodovias que ligam os estados do Paraná e Rio Grande do Sul.
A liberação das atividades deve ser vista com mais cautela, já que ficou evidente em vários pontos do país que, após a reabertura do comércio e de outras atividades econômicas, houve um crescimento de casos, como em Chapecó, na qual ocorreu a flexibilização da retomada das atividades na primeira quinzena de abril, e hoje é a segunda maior cidade, ficando atrás apenas de Concórdia. Esses municípios possuem uma ampla cadeia logística atrelada aos complexos agroindustriais, os quais demandam uma grande circulação de pessoas e facilitam a circulação do vírus.
Sem dúvida, a manutenção do decreto que restringe a circulação de veículos coletivos deve ser considerada uma barreira necessária, justamente para conter a circulação dos superspreaders (pessoas que possuem maior possibilidade de transmissão do vírus) nos transportes rodoviários, pois as principais cidades catarinenses (Florianópolis, Lages, Itajaí, Joinville, Criciúma, Chapecó, Blumenau e Balneário Camboriú) encontram-se inseridas nos principais eixos de circulação: a BR-101, BR-282, BR-470 e BR-116. Não podemos esquecer que os aeroportos também são pontos de circulação dessas pessoas, localizando-se igualmente naqueles nós logísticos. Considera-se fundamental a intensificação de barreiras sanitárias nesses pontos, a fim de identificar pessoas que estejam contaminadas, e tomar as medidas necessárias. Os superspreaders geralmente são aquelas pessoas que interagem com diversas realidades e de diferentes pontos do país, o que facilita a propagação do vírus pelo território nacional. A medida mais efetiva para conter o avanço do novo Coronavírus é a restrição seletiva da circulação.
Texto: LabCit/Gedri/UFSC